A felicidade

Para conquistar a felicidade precisamos de deixar que o passado se vá embora. E o passado só vai embora quando conseguimos resolver todos os relacionamentos inacabados, em que nos envolvemos em mútuos compromissos que nos amarram a pensamentos negativos e impedem o nosso progresso.

Conservar rancor, ideias de injustiça, insatisfação, culpa, frustração demonstra que a pessoa não tem condições de poder, para desfrutar de uma vida feliz e serena.

Por isso, é que precisamos limpar essas energias, e isso só se dá quando percebemos que somos responsáveis por tudo quanto nos acontece, quando deixarmos de culpar os outros pela nossa infelicidade.

Essa descoberta faz com que todos os sentimentos negativos criados por um enfoque errado de ver a vida desapareçam.

A arte de ser feliz

HOUVE um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.

HOUVE um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebe-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.

HOUVE um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava a sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, ah, às vezes faziam com as mãos gestos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e sentia-me completamente feliz.

HOUVE um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

MAS, quando falo dessas pequenas felicidades, certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

(Cecília Meireles)